Por Dr. Loraine Boettner1
Trad. por Daniel P. Rodrigues
Cf. Parte 1
A ideia de que os salvos estarão em maior número do que os perdidos é também demonstrada pelos contrastes feitos na Escritura. O Céu é uniformemente retratado como sendo o próximo mundo, como um grande reino, uma nação, uma cidade; enquanto, por outro lado, o inferno é uniformemente representado como sendo um lugar comparativamente pequeno, uma prisão, um lago (de fogo e enxofre), um poço (talvez profundo, mas estreito): (Lucas 20:35; Apocalipse 21:1, Mateus 5:3; Hebreus 11:16, 1 Pedro 3:19; Apocalipse 19:20; 21:8-16). Quando os anjos e santos são mencionados na Escritura, eles são descritos como sendo hostes, miríades, uma inumerável multidão, dez milhares vezes dez milhares e muito mais milhares de milhares; mas nenhuma linguagem do tipo jamais é usada em relação aos perdidos e, em contraste, seu número aparenta ser relativamente insignificante (Lucas 2:13; Isaías 6:3; Apocalipse 5:11). A descrição do julgamento do grande trono branco, como vista em Apocalipse 20:11-15, é concluída com a seguinte declaração: “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” – uma linguagem que indica que, no julgamento, o normal será que os nomes da grande maioria da população da terra estejam escritos no livro da vida. Tal linguagem implica que aqueles cujos nomes não estão escritos lá são os casos excepcionais – poderíamos dizer até raros.
O círculo da eleição de Deus”, diz o Dr. W. G. T. Shedd, “é o grande círculo dos céus, e não o de uma esteira. O reino de Satanás é insignificante em contraste com o reino de Cristo. No imenso alcance do domínio de Deus, o bem é a regra, e o mal é a exceção. O pecado é um cisco sobre o céu azul da eternidade; uma pequena mancha no sol. O inferno é apenas um canto em meio ao universo.”
Julgando a partir destas declarações, a conclusão que chegaríamos, se ousarmos conjecturar, é que o número dos que são salvos, por fim, terá tamanha proporção sobre o número dos que são condenados que o número de cidadãos livres em nossa nação em relação ao número dos que estão em prisões e penitenciárias; ou que a companhia dos salvos poderia ser comparada ao caule da árvore, que cresce e floresce, enquanto os perdidos são apenas os pequenos galhos e ramos a serem podados que são cortados para serem destruídos nas fogueiras. Este é o prospecto que o pós-milenismo é capaz de oferecer. Quem entre os que defendem os outros sistemas não desejaria que isso fosse verdadeiro?
Mas, poder-se-ia perguntar, os versículos “Estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem”, e “Muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mateus 7:14; 22:14) não ensinam que há muito mais perdidos que salvos? Cremos que estes versículos devem ser entendidos como descrevendo as condições que Jesus e os discípulos presenciaram na Palestina de seus dias. A grande maioria do povo não andava no caminho da justiça, e as palavras foram ditas a partir do ponto de vista do momento, em vez do ponto do distante Juízo Final. Nessas palavras apresenta-se um retrato do que era verídico para a época, e que continua sendo, no geral, até mesmo em nosso presente. Mas poderíamos perguntar, em vista da prosperidade futura prometida à Igreja, se não temos o direito de crer que, à medida que os anos e séculos e eras passam, a proporção dos que seguem “os dois caminhos” será invertida?
Esses versículos também têm o propósito de ensinar que o caminho da salvação é de dificuldade e sacrifício, e que é o nosso dever nos esforçarmos em segui-lo com diligência e persistência. Nenhum cristão deve trivializar a sua salvação. Aqueles que entram no reino dos céus o fazem através de muitas tribulações; por isso Cristo nos ordena: “Esforçai-vos para entrar pela porta estreita” (Lucas 13:24). A escolha na vida é representada como sendo uma escolha entre dois caminhos – um é largo, suave e fácil de caminhar, mas leva à destruição. O outro é estreito e difícil, mas leva à vida. “Não há razão alguma,” diz o Dr. Warfield, “para assumir que essa similitude ensina que os salvos serão menores em número que os perdidos, mais do que há para assumir que a parábola das Dez Virgens (Mateus 25:1ff) nos ensina que serão precisamente iguais em número; e há bem menos razão para supor que essa similitude ensina que os salvos serão menores em número comparativamente aos perdidos quando a parábola do Joio em meio ao Trigo (Mateus 13:24ff) ensina que os perdidos estarão em número insignificante em comparação com os salvos – pois isso, de fato, é uma parte importante do ensino desta parábola” (Artigo, Are They Few That Be Saved?). E poderíamos acrescentar que não há razão para supor que essa referência aos dois caminhos ensina que o número dos salvos será menor do que o número do que o número dos perdidos mais do que há para supor que a parábola da Ovelha Perdida ensina que apenas um dentre cem se afasta e que mesmo este um será finalmente trazido de volta ao rebanho – o que realmente seria o mesmo que ensinar algum tipo de reconciliação universal.
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