A Imensidão da Multidão dos Remidos – Parte 1

A Imensidão da Multidão dos Remidos – Parte 1

Por Dr. Loraine Boettner1
Trad. por Daniel P. Rodrigues

O escritor do Apocalipse diz: “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro” (Apocalipse 7:9-10). Deus escolheu redimir incontáveis milhões em meio à raça humana. Não nos foi informada a proporção da humanidade que foi incluída em Seus propósitos de misericórdia, mas, em vista dos futuros dias de prosperidade que foram prometidos à Igreja, pode ser inferido que grande parte desta será contada entre os redimidos. Assumindo que aqueles que morrem na infância são salvos, como a maioria das igrejas têm ensinado e a maior parte dos teólogos têm crido, a maior proporção da raça humana já foi salva.

Em Apocalipse 19:11-21, temos uma visão que descreve em linguagem figurativa o conflito duradouro entre as forças do bem e as forças do mal no mundo, com sua promessa de vitória completa. Lemos:

E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo. E estava vestido de uma veste tingida em sangue; e o nome pelo qual se chama é A Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: REI DOS REIS, E SENHOR DOS SENHORES.

E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, e ajuntai-vos à ceia do grande Deus; para que comais a carne dos reis, e a carne dos tribunos, e a carne dos fortes, e a carne dos cavalos e dos que sobre eles se assentam; e a carne de todos os homens, livres e servos, pequenos e grandes.

E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos, para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo, e ao seu exército. E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre. E os demais foram mortos com a espada que saía da boca do que estava assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas carnes.

Cremos que a melhor explicação desta passagem é dada pelo Dr. Warfield. Ele diz:

A seção é aberta com uma visão da vitória do Verbo de Deus, o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores sobre todos os Seus inimigos. Vemos Ele vir dos céus cingido para batalha, seguido pelos exércitos celestiais; as aves nos ares são convocadas para o banquete de cadáveres que será preparado para elas; os exércitos do inimigo – as bestas e os reis da terra – estão reunidos contra ele e são totalmente destruídos; e ‘todas as aves se fartaram com a carne deles.’ O que temos aqui é um retrato vívido de uma vitória completa, uma conquista total; e todas essas imagens de guerra e batalha são empregadas para dar-lhe vida. Esse é o símbolo. O que é simbolizado, obviamente, é a vitória completa do Filho de Deus sobre todas as hostes da iniquidade. Apenas um único indício dessa significação é fornecido pela linguagem da descrição, mas isso é o bastante. Em duas ocasiões, somos cuidadosamente informados que a espada pela qual a vitória é alcançada procede da boca do conquistador (versículos 15 e 21). Portanto, não devemos pensar, como lemos, em uma guerra literal ou um combate físico; a conquista é alcançada através da palavra falada – em suma, pela pregação do Evangelho. Por fim, temos diante de nós um retrato da carreira vitoriosa do Evangelho de Cristo no mundo. Todo o simbolismo de uma batalha terrível e seus horrendos detalhes existe apenas para nos dar a impressão da completude da vitória. O Evangelho de Cristo deve conquistar a terra; Ele deve vencer todos os Seus inimigos…

Com efeito, o que temos aqui é um retrato de todo o período entre o primeiro e o segundo adventos, vistos do ponto de vista do céu. É o período de vitória progressiva do Filho de Deus sobre o mundo, enfatizando, em harmonia com sua posição ao fim do livro, a totalidade da vitória. É o undécimo capítulo de Romanos e o décimo-quinto capítulo de 1 Coríntios de forma simbólica – exceto pelo fato que, talvez, a totalidade do triunfo do Evangelho é possivelmente enfatizada em um nível maior aqui…

Tão enfaticamente quanto Paulo, João ensina que a história terrena da igreja não é uma história meramente de conflito contra o mal, mas da conquista deste: e até mais ricamente que Paulo, João ensina que essa conquista será decisiva e completa. O significado da visão como um todo é que Cristo Jesus avança não meramente para a guerra, mas para a vitória; e cada detalhe desse retrato é posto precisamente com uma visão de enfatizar a perfeição dessa vitória. O Evangelho de Cristo há de, conforme João testemunha, completamente conquistar o mundo. Ele não diz nada, não mais do que Paulo diz, sobre o período de duração desse mundo conquistado. Se o juízo final e o reino consumado devem se seguir imediatamente após sua conquista – suas visões ficam em silêncio, assim como os ensinos de Paulo. No entanto, levando isso em conta, a possibilidade de uma duração estendida da terra conquistada é deixada em aberto; e, em todo caso, uma conquista da terra pelo Evangelho de Cristo que avança progressivamente implica numa era vindoura que merece, no mínimo, o adjetivo ‘dourada’”2

Nós que vivemos entre a primeira e a segunda vinda de Cristo presenciamos a conquista se realizando. Cremos que Apocalipse 19:11-21 é uma descrição da batalha espiritual que é travada pelos séculos, na qual, como seguidores de nosso grande Capitão, temos o privilégio de ser participantes dela. No versículo 14, diz-se que aqueles que seguem o Cavaleiro no cavalo branco são “vestidos de linho fino, branco e puro.” Claramente, os eleitos de Cristo são Seus soldados. Anteriormente no mesmo capítulo, no versículo 8, é-nos dito que a Igreja, como a noiva do Cordeiro, se vestiu “de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (ARA). Dessa forma, os atos de justiça dos santos que, pelos séculos, constituem a Igreja, certamente têm um papel importante nessa grande conquista. Paulo nos dá uma compreensão da natureza desta batalha quando ele diz: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6:11-12). Aqui aprendemos quem são os reais inimigos do reino de Cristo. Nosso conflito é revelado como não sendo primordialmente contra seres humanos malignos, mas, em vez disso, contra hostes espirituais da maldade. Aqui, também, aprendemos que, nessa guerra santa, os cristãos são os soldados de Cristo, e que é através de suas vitórias que a vitória dEle é obtida.

Não nos é dito por quanto tempo a conquista continua até que seja coroada com a vitória – nós propositalmente usamos a palavra “conquista”, no lugar de “conflito”, pois Cristo não está meramente combatendo o mal, mas progressivamente vencendo-o – ou por quanto tempo o mundo convertido deve aguardar pela vinda de seu Senhor. Hoje, vivemos em uma era que é relativamente ‘dourada’ em comparação com o primeiro século da era cristã. Esse progresso deve continuar até que nesta terra vejamos um cumprimento prático da oração “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” – e o simples fato que o próprio Cristo ensinou Seus discípulos a orar dessa forma certamente indica que é uma petição que Deus deseja ouvir e atender. Quando compreendemos a visão mais ampla do misericordioso trato de Deus para com o mundo pecaminoso, percebemos que Ele não distribuiu Sua graça salvadora com uma mão mesquinha, mas que o Seu propósito sempre foi da restauração de todo o mundo para Si mesmo.

Citamos a visão de Warfield referente a uma era dourada futura. Outro dentre os mais brilhantes teólogos da América, Jonathan Edwards, dá a seguinte exposição da visão pós-milenista:

“O reino visível de Satanás será derrubado, e o reino de Cristo se erguerá em cima de suas ruínas em todo mundo habitável. A promessa feita a Abraão será realizada: que nele e em seus descendentes todas as famílias da terra serão abençoadas. Cristo se tornará o desejado de todas as nações (cf. Ag. 2:7, ARC). Nesse dia, o reino de Cristo abrangerá todas as nações, o mundo todo no sentido mais literal possível. Há muitas passagens na Bíblia que não podem ser compreendidas de outra maneira. O que pode ser mais universal que Isaías 11:9: ‘A terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.’ Em outras palavras, não há nenhuma baía nem outra parte do mar que não seja coberta de água, portanto, não haverá nenhum canto do mundo onde a humanidade não tenha conhecimento de Deus. Assim, em Isaías 45:22, é predito que os confins da terra se voltarão para Cristo e serão salvos. E para reforçar que essas palavras deverão ser entendidas de forma bem universal, o versículo seguinte diz: “Jurei por mim mesmo; a palavra de justiça já saiu da minha boca e não voltará atrás. Todo joelho se dobrará e toda língua haverá de jrurar diante de mim…” Em Daniel 7:27, a expressão mais universal é colocada: “O reino, o domínio e a grandeza dos reinos debaixo de todo o céu serão dados à multidão dos santos do Altíssimo”.3

Logo no início do Antigo Testamento, a promessa que foi dada a Abraão que sua posteridade seria uma imensa multidão – “Deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar” (Gênesis 22:17); “E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada” (Gênesis 13:16). E, no Novo Testamento, descobrimos que essa promessa não se refere meramente aos judeus como um povo separado, mas aos Cristãos que, no sentido mais elevado, são os verdadeiros “filhos de Abraão”. “Sabei, pois”, diz Paulo, “que os que são da fé são filhos de Abraão”; e novamente, “se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.” (Gálatas 3:7, 29)

Isaías declarou que o bom prazer de Jeová prosperará na mão do Messias, que Ele verá o fruto do trabalho da Sua alma e ficará satisfeito (Isaías 53:10-11). E, em vista do que Ele sofreu no Calvário, sabemos que Ele não será facilmente satisfeito.

  1. Fonte: The Millenium, Loraine Boettner, pt. I, cap. 6, pp. 30-35 ↩︎
  2. B. B. Warfield, The Millenium and the Apocalypse; reimpresso em Biblical Doctrines, pp. 647, 648, 662 ↩︎
  3. Jonathan Edwards, Uma História da Obra de Redenção, pp. 235-236, Edições Vida Nova ↩︎

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