Por B. B. Warfield1
Trad. por Daniel P. Rodrigues
“E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo. E estava vestido de uma veste tingida em sangue; e o nome pelo qual se chama é A Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores. E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, e ajuntai-vos à ceia do grande Deus; para que comais a carne dos reis, e a carne dos tribunos, e a carne dos fortes, e a carne dos cavalos e dos que sobre eles se assentam; e a carne de todos os homens, livres e servos, pequenos e grandes.”
Apocalipse 19:11-18 (ACF)
A seção é aberta com uma visão da vitória do Verbo de Deus, o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores sobre todos os Seus inimigos. Vemos Ele vir dos céus cingido para batalha, seguido pelos exércitos celestiais; as aves nos ares são convocadas para o banquete de cadáveres que será preparado para elas; os exércitos do inimigo – as bestas e os reis da terra – estão reunidos contra ele e são totalmente destruídos; e ‘todas as aves se fartaram com a carne deles.’ O que temos aqui é um retrato vívido de uma vitória completa, uma conquista total; e todas essas imagens de guerra e batalha são empregadas para dar-lhe vida. Esse é o símbolo. O que é simbolizado, obviamente, é a vitória completa do Filho de Deus sobre todas as hostes da iniquidade. Apenas um único indício dessa significação é fornecido pela linguagem da descrição, mas isso é o bastante. Em duas ocasiões, somos cuidadosamente informados que a espada pela qual a vitória é alcançada procede da boca do conquistador (versículos 15 e 21). Portanto, não devemos pensar, como lemos, em uma guerra literal ou um combate físico; a conquista é alcançada através da palavra falada – em suma, pela pregação do Evangelho. Por fim, temos diante de nós um retrato da carreira vitoriosa do Evangelho de Cristo no mundo. Todo o simbolismo de uma batalha terrível e seus horrendos detalhes existe apenas para nos dar a impressão da completude da vitória. O Evangelho de Cristo deve conquistar a terra; Ele deve vencer todos os Seus inimigos.
Claramente, não há nada de novo nisso. A vitória do evangelho foi predita continuamente, mesmo nos tempos do Antigo Testamento, através da figura de uma conquista espiritual. É também dessa forma que Paulo a retrata. É dessa forma, também, que o próprio João a retrata em outras instâncias: ela é, de fato, a representação basilar de todos esse livro. Em particular, percebemos que essa visão esplêndida é, no fim, apenas a expansão da visão paralela dada no segundo versículo do sexto capítulo. Quando o primeiro selo foi aberto, “E eu vi”, diz o profeta, “e eis um cavalo branco; e o que nele estava assentado tinha um arco; e uma coroa lhe foi dada, e ele seguiu adiante conquistando, e para conquistar.” É esta mesma cena que agora está diante de nós, apenas mais reforçada e descrita de forma mais adequada, como convém ao seu lugar próximo ao fim do livro. Lembremo-nos agora do princípio da “recapitulação” que governa a estrutura do livro, e assim perceberemos que esta primeira visão da última seção, em concordância com o método geral para a interpretação do livro, retorna ao princípio e retrata para nós, como Apocalipse 6:2 e 12:1 o fazem, a primeira vinda do Senhor e o seu propósito, e agora, com mais detalhe e ênfase, o resultado final desta vinda. Com efeito, o que temos aqui é um retrato de todo o período entre o primeiro e o segundo adventos, vistos do ponto de vista do céu. É o período de vitória progressiva do Filho de Deus sobre o mundo, enfatizando, em harmonia com sua posição ao fim do livro, a totalidade da vitória. É o undécimo capítulo de Romanos e o décimo-quinto capítulo de 1 Coríntios de forma simbólica – exceto pelo fato que, talvez, a totalidade do triunfo do Evangelho é possivelmente enfatizada em um nível maior aqui.
Nosso Senhor Jesus Cristo veio conquistar o mundo para Si mesmo, e isso Ele o faz com um rigor e uma plenitude que parece ir além até mesmo do que é sugerido por Romanos 11 e 1 Coríntios 15. Entrementes, enquanto a conquista do mundo ocorre na esfera material, os santos que morrem no Senhor são reunidos no Paraíso para reinar com o seu Senhor, que também é o Senhor de todos, e é quem, a partir de Seu trono, dirige a conquista do mundo. Quando a vitória é concluída, então sobrevém o juízo final e a destruição total e completa dos iníquos. Imediatamente, há um novo Céu e uma nova Terra, e a consumação da glória da Igreja. E esta Igreja habitará para sempre com o Altíssimo (Apocalipse 22:5), em perfeição de santidade e beatitude.
Tão enfaticamente quanto Paulo, João ensina que a história terrena da igreja não é uma história meramente de conflito contra o mal, mas da conquista deste: e até mais ricamente que Paulo, João ensina que essa conquista será decisiva e completa. O significado da visão como um todo é que Cristo Jesus avança não meramente para a guerra, mas para a vitória; e cada detalhe desse retrato é posto precisamente com uma visão de enfatizar a perfeição dessa vitória. O Evangelho de Cristo há de, conforme João testemunha, completamente conquistar o mundo. Ele não diz nada, não mais do que Paulo diz, sobre o período de duração desse mundo conquistado. Se o juízo final e o reino consumado devem se seguir imediatamente após sua conquista – suas visões ficam em silêncio, assim como os ensinos de Paulo. No entanto, levando isso em conta, a possibilidade de uma duração estendida da terra conquistada é deixada em aberto; e, em todo caso, uma conquista da terra pelo Evangelho de Cristo que avança progressivamente implica numa era vindoura que merece, no mínimo, o adjetivo ‘dourada’.
- Fonte: B. B. Warfield, The Millennium and The Apocalypse. Adaptado ↩︎
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