Por Michael S. Heiser1
Trad. por Sandra M. Alex
Introdução por Daniel P. Rodrigues
No que tange às discussões referentes ao Romanismo, não há talvez passagem mais prevalente que aquela em Mateus 16:17-18: a confissão de Pedro e a declaração de Cristo que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja.
Em meio aos debates envolvendo a passagem em questão e às afirmações do catolicismo romano de que este seria um texto-prova para o papado; perde-se uma preciosa declaração sobre a vitória do Reino de Cristo sobre os poderes das trevas.
O texto a seguir é extraído e adaptado de um capítulo do livro ‘O Mundo Invisível’, do saudoso Dr. Michael S. Heiser. Apesar de, em vida, não ter aderido ao Pós-Milenismo, nem ter sobscrito a uma cosmovisão reformada, Heiser estabelece aqui um caso bem pertinente para a compreensão desse texto como uma afirmação do triunfo da igreja através do avanço do Reino.
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As desavenças espirituais contra os poderes das trevas são evidentes em todo o ministério de Jesus, sendo uma das mais dramáticas descrita em Mateus 16:13-20. Jesus Se dirige com os Seus discípulos ao distrito de Cesareia de Filipe. No caminho, Ele faz a famosa pergunta: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?” Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Jesus elogia a pedro:
Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mateus 16:17-18)
Essa é uma das passagens mais controversas da Bíblia, pois trata-se de um enfoque de debate dentre os católicos romanos, que a citam ao debater que a passagem prova que Pedro é o líder da igreja original (e, portanto, o primeiro Papa), e aqueles que se opõem à ideia. Na realidade, ocorre algo muito mais cósmico. O local do evento – Cesareia de Filipe – e a referência aos “portais do inferno” providenciam o contexto para a “rocha” à qual Jesus Se refere.
Cesareia de Filipe, também conhecida como “Panias”, se localizava, no Antigo Testamento, ao norte da região de Basã, o “lugar da serpente”, bem ao pé do monte Hermom. 2 Nada havia mudado muito nos dias de Jesus, pelo menos em termos de controle espiritual. O historiador da igreja primitiva, Eusébio, denota: “Até hoje, o monte em frente a Panias e ao Líbano é conhecido como Hermom, e é respeitado pela nação como um santuário”.
O local era famoso no mundo da antiguidade por ser o centro de adoração a Pã e por comportar um templo dedicado a Zeus, o deus supremo, que, nos dias de Jesus, se encarnava em Augusto César. Como observa uma das autoridades:
Mais de vinte templos foram pesquisados no Monte Hermom e seus arredores. Este é um número sem precedentes comparado a outras regiões da costa fenícia. Eles parecem ser os antigos locais de culto da população do Monte Hermon e representam o conceito cananeu/fenício de centros de culto ao ar livre dedicados, evidentemente, aos deuses celestiais.3
A referência aos “deuses celestiais” na citação remonta às “hostes celestiais”, os filhos de Deus que assumiram a autoridade sobre as nações em Babel (Deuteronômio 32:8-9, DSS, LXX)4, os quais não deveriam ser adorados pelos israelitas (Deuteronômio 4:19-20; 17:3; 29:25).
A base de contenção do catolicismo alegando que a igreja foi edificada na liderança de Pedro é que o seu nome significa “pedra”. Jesus fez, por certo, um trocadilho após a confissão de Pedro, contudo, sugiro que tenha havido também um duplo sentido: a “rocha” se refere ao local da montanha onde Jesus profere as palavras. Quando observadas sob essa perspectiva, Pedro confessa Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo, “nessa rocha” (nessa montanha – o Monte Hermom). Por quê? Na época do Antigo Testamento, considerava-se aquele local os “portais do inferno”, a entrada para o mundo dos mortos.5
A mensagem teológica não poderia ser mais dramática. Jesus diz que Ele edificará a Sua igreja – e que os “portais do inferno” não prevalecerão contra ela. Geralmente, ao pensarmos nessa frase, achamos que o povo de Deus, com bravura, assumiu a posição de defesa contra Satanás e seus demônios, o que, simplesmente, não é correto. Os portais são estruturas defensivas, e não armas ofensivas. O Reino de Deus é o agressor. Jesus começa no marco zero da geografia cósmica de ambos os testamentos para anunciar a grande reversão. São os portais do inferno que estão sob ataque – e eles não permanecerão intactos contra a Igreja. O inferno será, um dia, o túmulo de Satanás.
- Fonte: O Mundo Invisível, Michael S. Heiser, pp. 336-340, LIVREPRESS ↩︎
- Para mais informações, cf. Cap. 24 de O Mundo Invisível, Michael S. Heiser, LIVREPRESS ↩︎
- Arav, Hermon, Mount (Place), pg. 159 ↩︎
- Cf. O Mundo Invisível, Michael S. Heiser, Cap. 14, LIVREPRESS ↩︎
- Cf. O Mundo Invisível, Michael S. Heiser, Cap. 24, LIVREPRESS ↩︎
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